Roupas para “Desvestir”

Há quem diga que a nudez é a parte mais sensível de nossas volúpias. Desconfio que esses “dizentes” esquecem de coisas essenciais ao olhar, ao toque, aos ouvidos e ao paladar. A nudez é indubitavelmente bela, sempre é. Mas os vestidos pretos são indispensáveis.

O primeiro vestido preto é algo inesquecível. Cada linha do vestido descreve uma paisagem a ser descoberta, desnudada, desnorteada. A imagem que guardamos é a da pele fresca se pronunciando, quase que nos convidando. Ela o encontrou assim, no segundo encontro. Era para um cinema. Era uma sexta feira.

Os olhares se encontraram depois que ele mediu com régua todo o corpo dela. Houve um sorriso e um leve rubor, em ambos. Mas estava nítido o protocolo de intenções.

O filme não pode demorar muito. Óbvio. Mas as primeiras impressões e os beijos inaugurais dão conta de aquecer. E neste aquecimento o pau duro já é tocado, ainda que de leve, pelo corpo dela, pelas mãos bobas dela. As incursões por entre o vestido começam pelas coxas, quentes e levemente arrepiadas. Apertos, presságios, prenúncios.

Ainda que a noite tenha sido deliciosamente curtida, que o corpo dela sem o vestido tenha sido saboreado, parte a parte, de fio a pavio, que o sexo dela tenha sido comido, beijado, lambuzado, admirado, tocado, sorvido.. é sempre a lembrança dela se vestindo, cobiçada pelo espelho maroto, que o convida e o excita para uma outra vez. O vestido preto, básico, simples, fundamental.


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